Abusos
Em cada dia que passa aprendo alguma coisa. Melhor ainda, há tempos em que recebo mensagens e situações que me levam a tomar consciência, a modificar a minha forma de estar e pensar sobre um determinado tema.
O tema agora é o abuso. Abuso sob diversas formas, algumas mais corriqueiras que outras. Por vezes fico tão receptiva a tais mensagens que penso que ando um bocado paranóica a ver abusos em todo o lado. Sei que não é nada disso. O que acontece é que, realmente, existem muitas e diversas formas de abuso, algumas das quais nos são tão familiares que achamos que são normais, que são OK.
O que são faltas de respeito senão abusos? O que é tirar partido de situações e de pessoas senão um abuso? O que é ridicularizar outra pessoa? O que é não descansar o suficiente? O que é ignorar o ritmo da Lua, do Sol, das marés, da Natureza? O que é ignorar o que existe dentro de mim, o que sinto, o que penso, o que sou de verdade? O que é impor-me aos outros, querer fazer vingar a minha vontade, a minha razão? O que é atirar para cima dos outros com os meus problemas, as minhas queixas, os meus ressentimentos, de uma forma intempestiva como se eles, por serem amigos ou familiares, tivessem a obrigação de me aturar sempre que me apetece e da forma que me apetece?
Cada um de nós é um conjunto misterioso de componentes complexas; cada um de nós é algo que nos ultrapassa por não ser possível abarcarmos tal realidade; cada um de nós tem dentro de si um mar imenso de possiblidades, de potencialidades, de hipóteses de desenvolvimento insuspeitadas à espera de uma oportunidade para virem à superfície; cada um de nós é um mundo à espera de ser descoberto.
Ficar só pelo que vemos, reduzir a amplitude destes pequenos/grandes Universos apenas à sua superfície visível, ignorar as várias facetas, os cambiantes, os milhares de tons que existem e se vão revelando (ou não), é um exercício de paciência e de persistência possível apenas quando damos tempo e espaço a esse nascer de conhecimento. É preciso querer.