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an-dando

Quando me escrevo, descrevo. Quando descrevo, estou. Quando estou, dou.

an-dando

Quando me escrevo, descrevo. Quando descrevo, estou. Quando estou, dou.

Começos

18.03.24

Quando ele lhe disse: “Sabes, na verdade, posso muito bem viver sem ti”, o seu pequeno coração estremeceu de alegria. Até agora, os seus apaixonados sempre lhe tinham dito: “Não posso viver sem ti!”.  Deviam pensar que isso era sinónimo de amor profundo. Para ela, era simplesmente sinónimo de prisão. Queria lá uma pessoa que se colocava na sua dependência? Como se isso lhe pudesse dar algum poder? Seria o que pensavam? Que ela imaginaria que, dessa forma, teria todo o poder nessa relação? Que disparate... Nem queria poder, nem queria dependência!

Depois, ele acrescentou: “Bom, sem ti não será a mesma coisa... Como sinto um enorme prazer em estar contigo, em conversar contigo, em passear contigo ... penso para mim mesmo que gostava de multiplicar esses momentos e poder partilhar-me mais profundamente esperando que também seja teu desejo partilhares-te”.

Ah... a partilha! Sim, a partilha de gostos e desgostos, de sucessos e falhanços, de risos e choros, de sonhos e ilusões... a livre partilha da vida, isso sim, isso era na realidade o que podia ser.  Nada de amor para sempre, mas essa vontade de partilha, renascida em cada dia. Para ela, essa partilha não seria total e ininterrupta. Também precisava dos seus momentos, dos seus amigos, do seu silêncio, enfim de cuidar do seu Eu. O que é que ele pensaria acerca disso? Decidiu nada lhe perguntar e esperar para ver.

Respondeu simplesmente: “Sabes? Também eu posso viver sem ti. De facto, é o que tenho feito desde que nasci e até agora.” E sorriu-lhe com um ar traquina. Continuou: “Porém, ter a oportunidade de me partilhar e de alguém por quem tenho muito carinho se partilhar comigo, é uma aventura fascinante e uma dádiva do Universo que gostaria de receber com muita gratidão.”

Os seus olhos encontraram-se, partilhando de uma forma diferente aquele primeiro prolongado momento. A ternura multiplicou-se, algo de indizível estava a acontecer. Um doce começo? Pergunta a que o tempo iria responder...