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an-dando

Quando me escrevo, descrevo. Quando descrevo, estou. Quando estou, dou.

an-dando

Quando me escrevo, descrevo. Quando descrevo, estou. Quando estou, dou.

Chamaste

20.02.24

Estava eu à porta quando me chamaste. Fiz de conta que não ouvi, até me virei para o outro lado. Que coisa! Sempre a chamar, a chamar... Preciso de paz, de estar comigo, de tranquilidade! Não quero que estejas sempre a incomodar-me. Claro que gosto que me chames, mas sempre? Sempre não, não quero.

E sabes porque não quero? É que, para além de ser uma chatice para mim – isto é realmente um egoísmo da minha parte, egoísmo aliás a que tenho todo o direito – é uma mentira. Porquê? Pensa bem. Qual a razão desse chamar, chamar? Não és tu um adulto, uma pessoa capaz, inteligente, admirado pelos teus colegas? Então porque queres fazer-me crer que precisas desesperadamente de mim em todas as situações? Deixa-me dizer-te que essa forma de adulação não funciona. Cansa-me.

 

Chamei-te. Vi perfeitamente o teu suspiro e o virar da cara. Queres ignorar-me. Isso dói-me. Queria-te mais perto de mim, menos arisca, mais amorosa, mas tu pareces não ligar. Por vezes pergunto-me quando anunciarás que te vais embora. Não sei o que fazer perante essa frieza. Então, chamo-te novamente. Pode ser algo estúpido, visto que não tem o resultado que pretendo, mas que queres? Não sei fazer de outra maneira... 

 

 

Estava eu à porta quando me chamaste. O meu coração alvoroçou, a minha face enrubesceu, fiquei desajeitada sem saber o que fazer. Queria correr para ti, mas por outro lado não queria que soubesses o quanto fiquei vulnerável. Deitei-te um olhar rápido e vi-te sorrir. Sorri para dentro e continuei o meu caminho. Ao contrário do que sentia, não fui capaz de te responder.

 

Chamei-te. Vi perfeitamente que estremeceste, querendo esconder o que sentiste. Isso deixou-me cheio de entusiasmo. Percebi a tua timidez, o teu receio. Soube que ainda não era o momento, que era preciso esperar, continuar a namorar-te de longe... Ah sim, mas havia um “ainda” que me deixou eufórico. Agora “ainda” era assim, mas mais tarde quem sabe o que poderia acontecer...

 

 

Estava eu à porta quando me chamaste. Que quererias tu agora? Sempre tinha embirrado com aquela vizinha. Não a suportava porque ela toda se derretia, dengosa, a dizer piadas sem graça, a fazer-se simpática e melga. “Diz lá o que queres desta vez?” Oh, mas oh porque é que eu não a mandava passear? Porque é que eu tinha de ser sempre bem educadinho, comportado? Por vezes não me suportava também a mim mesmo. 

 

Pode ser assim o chamar. Um pedido de encontro, de companhia, um apelo da alma, um desejo de partilha, de calor. Por vezes acerta e faz faísca; outras vezes não acerta e faz outro tipo de faísca.

Vida complicada

16.02.24

e eu às voltas sem saber como explicar o que tinha sucedido. não fora por mal, não fora intencional, mas fora... tinha sido eu. não sabia porquê, não sabia como, fora um momento de loucura. sim, poderia dizer que fora um momento de loucura. um momento de loucura é permitido, não é? um pequeno, pequenino. mas logo me vinha à mente a enorme discussão que aquilo causara. e então a reacção da dona marta! a dona marta, na sua confusão, sem perceber nada, mas toda enxofrada, supondo sem sombra de dúvida que toda a vizinhança iria saber. era por isso a sua raiva. não ponham o meu nome nisso, não me quero nas bocas do mundo. se ouço dizer alguma coisa dessas, nem sei do que sou capaz! o senhor pereira, oh querida tem calma, não é nada disso que estás a pensar. foi só alguém que se enganou, pronto. não dês tanta importância. e ela, não dou importância, não dou importância quando o meu nome, o nosso nome, pode estar manchado? claro que dou importância e muita! 

oh vida complicada...

O primeiro banho

16.02.24

O primeiro banho

 

Lá vai a D. Joana,

Joana Barrambana

Outrora moça serrana

Depois virou tricana

 

Sabem o que aconteceu?

 

Com um jeito pretenso

A pegar no cântaro, no xaile e no lenço

Com a respiração em suspenso

Decide dar um passo imenso

 

Logo um sapo irrompeu

 

Na pedra escorrega a tamanca

O avental se lhe arranca

Rodopia a saia na anca

Voa o lenço da carranca

 

Splash... e um grande grito o ar varreu!

 

D. Joana irada

Toda ensopada

Envergonhada

No Mondego mergulhada