Pergunto-me: qual será o melhor ingrediente para uma boa salada? Não falo daquelas saladas que se preparam nas nossas cozinhas, nem das que se compram prontas a comer. Não! Falo de todas as outras saladas, todas as que se possam imaginar para além daquelas que, na verdade para este caso concreto, não têm qualquer interesse. Reparem: uma salada não é mais do que uma miscelânea, um agregar de ingredientes com mais ou menos afinidades entre si. E temos visto bem recentemente um montão delas, conjuntos disformes aparentemente uniformes, enlaces forçados de companhias evitáveis, compostos de elementos repelentes, arranjos de peças desarranjadas, e assim por diante. Funcionam? São boas? Úteis? Preenchem algum lugar estimável? Ou, pelo contrário, levam-nos por caminhos de engano, mentira, desilusão e até mesmo desespero?
Sempre se ouviu falar de “salada russa”, termo não só aplicado a batatas aos quadradinhos misturadas com cenouras e ervilhas. Salada russa tem mesmo esse sentido de amálgama, embrulhada, confusão.
A questão pertinente é então: qual o elemento importante, vital e imprescindível capaz de ligar o ineligável, de juntar o que é disjunto? É que não é só ligar, juntar, compor, arranjar, enlaçar... É que aos olhos de todos, dos mais ingénuos aos mais argutos, a coisa tem de parecer harmoniosa, coerente, compreensível e lógica. Até parece que funciona, que é boa, útil e estimável. Ah, contudo, ao fim de algum pouco tempo, o véu da ilusão começa a escorregar, um pouco daqui, outro dacolá e às tantas quase toda a verdade perpassa e, por mais tentativas que se queira fazer, já todos percebemos o engodo. Desiludidos, viramos costas. A salada não era, de facto, uma boa salada.
Sim, dirão, mas há que experimentar! Quem sabe se os elementos realmente se repelem, se estão na verdade desarranjados, se são companhias evitáveis? Quem sabe tudo isso sem o testar, verificar na prática, comprovar? A inovação é um caminho pedregoso, por vezes solitário e desanimador. Talvez um caminho só percorrido por loucos, visionários, feiticeiros ou outros capazes de pensamentos fora do que entendemos como normal. Esses são os corajosos, os que seguem em frente com determinação, teimosos, sem certezas, mas com uma vontade inabalável de conhecer e saber, de trilhar o desconhecido, o impensável, desafiar o comum. São os que não desanimam com os milhares de insucessos nem com as críticas mordazes dos que não vêem, não entendem, nem acreditam. São talvez o tal elemento importante, vital e imprescindível para uma boa salada. É que, em minha opinião, uma boa salada, na verdade, não se consegue logo à primeira.
(Da disciplina de Escrita Criativa)