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an-dando

Quando me escrevo, descrevo. Quando descrevo, estou. Quando estou, dou.

an-dando

Quando me escrevo, descrevo. Quando descrevo, estou. Quando estou, dou.

Lírios brancos

23.09.09

Vinha no caminho a pensar que logo vou precisar de um amuleto. Não para afastar a má sorte, nem a inveja, nem sequer a má língua. Preciso de um amuleto para me centrar, para me focar, para me manter fiel a mim. Ouvindo os outros, considerando as suas ideias, encarando as suas formas de ser e ver as coisas mas conseguir manter as minhas prioridades, não entrar em jogos nem em danças que não quero. Manter a calma, não ceder à armadilha da discussão para mostar que tenho razão. De facto, não é a minha razão que interessa ou deixa de interessar. Preciso de manter o meu olhar e o meu coração livres das cadeias dos argumentos e das razões. Preciso dessa brisa leve e pura que leva o pó e mantém a simplicidade das coisas que são mesmo importantes.

Um amuleto é tão fácil como uma imagem ou um símbolo. Algo que, no meio do calor das emoções, eu agarre e mentalmente encoste no meu coração para me devolver a tranquilidade perdida.

Pensei em lírios brancos, num campo, com essa leve brisa que leva as tormentas e o pó. Brancos como a pureza; lírios pela sua fragilidade igual à minha, pela sua elegância e beleza, algo com que me possa embevecer se o espectáculo real for demasiado cruel e doloroso.

Lírios brancos será.

 

 

 

 

Terra

17.09.09

Deixar correr, deixar fluir. Deixar que essa dor que mora no seu peito, que se estende ao seu âmago, deixar que essa dor possa escorrer pelos seus braços, que possa sair pelos seus dedos, que goteje para o chão e seja devolvida à Terra. A Terra tudo abraça e tudo consola. Fonte inesgotável de compaixão, de ternura, de carinho, de abraço.

Re-Encontros

16.09.09

As imagens e ideias que passam na mente e que são transmitidas, são transientes, e não constituem uma verdadeira representação da realidade. A maioria das vezes representam uma percepção da realidade que tem em si várias componentes que incluem a vivência do próprio indivíduo, as suas características e as suas motivações (a sua consciência).

Acreditar que o que ouço é verdade pode levar-me por caminhos insanos.

Vamos pensar na crítica que me fazem. Pensemos na crítica directa, em alguém que me confronta com o meu próprio comportamento. Quando ouço essas palavras, e ainda mais se forem acompanhadas de um tom de desprezo, de ironia, de zanga ou de violência, nasce em mim um sentimento de inadequação, de medo, de vergonha, como se quisesse fugir para qualquer lado onde não fosse possível ver aquilo que aquelas palavras estão a dizer de mim, da minha pessoa, do meu Eu.

De repente, esqueço-me que essas palavras são isso mesmo: palavras. Não são a realidade, não transmitem o que eu fiz e muito menos quem eu sou.

Tenho várias recordações desse sentimento de inadequação resultante do próprio facto de os outros não me entenderem, de me verem somente à luz da sua própria vivência e não poderem portanto perceber-me, entender-me.

O que fazer então? Que recursos tenho que me permitem manter a clareza e o foco e continuar a ver a realidade e a minha consciência?

Como transformar estas ocasiões em ocasiões em que eu não perca e o outro também não?

Não adianta responder à letra, não adianta rebater… Se verifico que estamos em sintonias diferentes, em níveis de entendimento diferentes, em realidades divergentes não adianta querer que haja ali e agora uma sintonia porque ela não é possível. Há que primeiro fazer o caminho para uma plataforma comum, um lugar onde possa haver verdadeiro diálogo, onde se possa de facto ouvir e ser ouvido. Para que isto seja possível, é necessário que ambas as partes queiram fazer esse percurso. Não é algo que possa ser realizado por uma só parte, como uma viagem solitária. Porque este caminho implica eu estar disponível para mudar, para perceber o lado do outro, a sua ideia, a sua perspectiva a sua consciência.

Neste caso o que interessa então é a descoberta do caminho que pode levar-nos a um encontro. Não adianta aprofundar os meandros do desencontro.

Os factos e acontecimentos reveladores do desencontro são ferramentas inestimáveis para percebermos a distância a que estamos. Por vezes a distância é tão grande que penso que não há hipótese de reatar e de ser possível o retorno a uma plataforma comum.

Normalmente é a dor e o desconforto que possibilitam um regresso. A dor que agora sinto em relação a algumas situações, essa dor de me sentir afastada, incompreendida, separada, isolada. É esta dor que proporciona o desejo do reencontro, o perdão e a compaixão.