Acho que há muita confusão acerca disso a que chamamos amor, acerca desses relacionamentos mais íntimos. A palavra amor tem tantos significados e tão diferentes! Penso e vejo que os relacionamentos íntimos são tão variados como vários são os significados que damos a essa palavra amor.
No domingo, fui à praia de Carcavelos. Estava sózinha e pude observar, com todo o tempo do mundo, vários casais, várias famílias. E também vos digo: relacionamentos íntimos?? Alguns, sim, talvez. Muitos, não pareciam assim tão íntimos. Vi muitas pessoas distantes, irritadas, entoando as palavras com mensagens subjacentes de crítica.
O que se passa? Passa algum tempo, vai-se a paixão e perde-se a pachorra. É isto?
Sou uma idealista, uma ingénua e uma romântica. A Vida tem-me ensinado a assentar os pés na terra e a perceber que o que importa mesmo, para mim, é a minha atitude. Isto, dito assim, parece muito egoismo junto, não é? O que quero dizer é que o que faz com que eu esteja bem comigo e com a Vida são as minhas atitudes, aquilo que faço e penso; não é o que os outros fazem, não é o que me fazem.
É muito apetecível sentir que sou o universo de outra pessoa, querer que isso dure e perdure para toda a vida. Afinal é isso que nos é "vendido" como amor nos filmes, nos anúncios, nas telenovelas. É fantástico saber que alguém centra a sua vida em mim, não faz nada sem me falar, quer estar sempre comigo, dar-me presentes, ouvir-me, acarinhar-me, sempre disponível para os meus desejos, ... Aprendi que isto é que é amor.
Mas depois veio a Vida e ensinou-me que isto não é o que eu pensava. Isto pode ser paixão, pode ser não ter mais que fazer, pode ser baixa auto-estima, pode ser vontade de fazer amor, pode ser necessidade de companhia, ...
Ah... isto não dura nem perdura muito tempo.
Passado algum tempo, não há pachorra.
O meu vazio de mim não pode ser tapado pelo vazio de outrém. Ficam só dois vazios, não será?
O Amor é uma dádiva, algo que recebo do Universo e que permite que eu possa construir com o outro uma nova dimensão para cada um de nós, algo que seria impossível fazermos sózinhos, individualmente. O Amor é o que possibilita alargar o meu horizonte, a minha perspectiva, a minha consciência. O Amor é algo que se multiplica em outros seres, em outros relacionamentos, como uma luz que vai tocando uns e outros que vivem connosco esta aventura. O Amor é algo de sagrado porque permite que eu partilhe a intimidade de outro ser humano, permite que eu possa mostrar o meu lado mais frágil e possa ver no outro o seu lado mais vulnerável. Ao partilhar aquilo que mais quebradiço e delicado existe é preciso por um lado coragem para o fazer e por outro lado um enorme respeito para o receber de outro. Desta forma, o Amor é uma aventura sem fim porque todos os dias existe mudança, todos os dias se descobre algo de novo, todos os dias há um novo recanto a explorar.
Partilhar a vida é uma decisão.
Partilhar a vida com Amor não acontece. É fruto de determinação, trabalho, persistência, paciência, humor, tolerância, simplicidade, ...
Também é preciso tempo e espaço para que seja possível.