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an-dando

Quando me escrevo, descrevo. Quando descrevo, estou. Quando estou, dou.

an-dando

Quando me escrevo, descrevo. Quando descrevo, estou. Quando estou, dou.

Doçura

31.07.09

Posso falar das saudades que tenho dos dias que já passaram, das aventuras que vivi, dos momentos felizes que encheram a minha vida.

Posso dizer-vos do entusiasmo que senti, do coração palpitante, da emoção galopante, do olhar brilhante, do sorriso nos lábios, do alvoroço, da comoção, dessa energia que me impeliu, que me fez dar saltos nos dias que passaram.

Posso contar-vos como, agora que isso passou e que o tempo é outro, me é difícil adaptar-me, perceber no fundo de mim mesma que agora também é vida, agora também é momento, agora também pode ser entusiasmo, vigor, fulgor, vibração, paixão.

Posso descrever como agora a aprendizagem é mais difícil porque baseada na determinação, na persistência, na paciência, ... Agora falta-me a mola impulsionadora, que no passado tornou tudo tão mais simples. É como se agora a corrente fosse mais fraca, a maré desceu, as águas têm mais dificuldade em seguir o seu curso.

Apesar de tudo, o caminho é incontornável. 

E sei que amanhã a maré vai subir, a torrente vai voltar e transportar-me com mais vigor no seu seio.

Basta-me então ter calma, perceber que a maré vazia tem também o seu encanto, é, também ela, uma dádiva que preciso de agradecer em cada dia que passa. Preciso então de desenvolver dentro de mim essa capacidade de  abraçar os doces momentos do desprendimento

Poder

28.07.09

 "Quando o poder do amor se sobrepuser ao amor pelo poder, o mundo irá conhecer a paz"

J. Hendrix
 
A fome de poder não é mais do que a fome de amor.

Amor

23.07.09

Acho que há muita confusão acerca disso a que chamamos amor, acerca desses relacionamentos mais íntimos. A palavra amor tem tantos significados e tão diferentes! Penso e vejo que os relacionamentos íntimos são tão variados como vários são os significados que damos a essa palavra amor. 

No domingo, fui à praia de Carcavelos. Estava sózinha e pude observar, com todo o tempo do mundo, vários casais, várias famílias. E também vos digo: relacionamentos íntimos?? Alguns, sim, talvez. Muitos, não pareciam assim tão íntimos. Vi muitas pessoas distantes, irritadas, entoando as palavras com mensagens subjacentes de crítica.

O que se passa? Passa algum tempo, vai-se a paixão e perde-se a pachorra. É isto?

Sou uma idealista, uma ingénua e uma romântica. A Vida tem-me ensinado a assentar os pés na terra e a perceber que o que importa mesmo, para mim, é a minha atitude. Isto, dito assim, parece muito egoismo junto, não é? O que quero dizer é que o que faz com que eu esteja bem comigo e com a Vida são as minhas atitudes, aquilo que faço e penso; não é o que os outros fazem, não é o que me fazem. 

É muito apetecível sentir que sou o universo de outra pessoa, querer que isso dure e perdure para toda a vida. Afinal é isso que nos é "vendido" como amor nos filmes, nos anúncios, nas telenovelas. É fantástico saber que alguém centra a sua vida em mim, não faz nada sem me falar, quer estar sempre comigo, dar-me presentes, ouvir-me, acarinhar-me, sempre disponível para os meus desejos, ... Aprendi que isto é que é amor.

Mas depois veio a Vida e ensinou-me que isto não é o que eu pensava. Isto pode ser paixão, pode ser não ter mais que fazer, pode ser baixa auto-estima, pode ser vontade de fazer amor, pode ser necessidade de companhia, ...

Ah... isto não dura nem perdura muito tempo.

Passado algum tempo, não há pachorra.

O meu vazio de mim não pode ser tapado pelo vazio de outrém. Ficam só dois vazios, não será?

O Amor é uma dádiva, algo que recebo do Universo e que permite que eu possa construir com o outro uma nova dimensão para cada um de nós, algo que seria impossível fazermos sózinhos, individualmente. O Amor é o que possibilita alargar  o meu horizonte, a minha perspectiva, a minha consciência. O Amor é algo que se multiplica em outros seres, em outros relacionamentos, como uma luz que vai tocando uns e outros que vivem connosco esta aventura. O Amor é algo de sagrado porque permite que eu partilhe a intimidade de outro ser humano, permite que eu possa mostrar o meu lado mais frágil e possa ver no outro o seu lado mais vulnerável. Ao partilhar aquilo que mais quebradiço e delicado existe é preciso por um lado coragem para o fazer e por outro lado um enorme respeito para o receber de outro. Desta forma, o Amor é uma aventura sem fim porque todos os dias existe mudança, todos os dias se descobre algo de novo, todos os dias há um novo recanto a explorar.

Partilhar a vida é uma decisão. 

Partilhar a vida com Amor não acontece. É fruto de determinação, trabalho, persistência, paciência, humor, tolerância, simplicidade, ...

Também é preciso tempo e espaço para que seja possível. 

 

Memórias

20.07.09

 De repente, sem pedir licença, da caixa da memória surge um flash, uma ideia, uma imagem, um som. 

Há coisas que eu preferia não recordar mas simplesmente isso não depende muito de mim. Não tenho esse tipo de controlo. O que me vem à ideia é despoletado por coisas da vida normal de todos os dias: um som, uma palavra, uma música, um odor, uma situação, ...

Dessa caixa de memória surgem lampejos de vivências que fazem de mim quem sou hoje. São as vivências mais marcantes as que mais surgem. Fico impressionada com a força dessas imagens, com a sua teimosia, com a sua persistência.

Tenho imagens muito boas e imagens muito más. 

São imagens assim que me constituem, que fazem cada célula de mim, cada grão de consciência, de maturidade.

Por vezes, a minha primeira atitude é rejeitar esse recordar. Sei que não vale a pena. Vale a pena aceitar, perceber que essas imagens, mesmo as que doem, são o meu caminho percorrido, são o meu sangue derramado, são as minhas lágrimas vertidas, são o meu desenvolvimento como pessoa, são o meu crescimento como Consciência. 

Não se pense que essas imagens não são boas... O problema com as muito boas é precisamente que já passaram!

Tenho tido uma vida cheia e isso é algo absolutamente Fantástico!

Plano Maior

15.07.09

 "Aquele que nos deixa, seja amigo ou amante, abre caminho para o nosso próximo plano de desenvolvimento".

Nem sempre quero saber de "novos planos de desenvolvimento"! Quando as coisas estão a correr bem ou, pelo menos, estou a gostar da forma como a vida está a decorrer, quando estou feliz e contente, entusiasmada com o que acontece e participando activa e completamente, não quero saber de mudanças. Contudo, parece existir esse Plano Maior que desconheço e que, de repente, me traz "prendas surpresa". A minha primeira reacção é espernear, rejeitar, barafustar, zangar-me, achar que é uma injustiça, chorar, ...

Tenho tido várias mudanças bruscas na minha vida. Tenho aprendido, à força, a dispor-me a viver completamente, não segundo o meu plano mas de acordo com o que a Vida me traz.

Aprendo todos os dias o equilíbrio entre os meus sonhos e a realidade, o possível, o que está no meu Caminho. 

Quero ser capaz de Amar dessa forma que não é prisão, que não é obrigação; quero ser capaz de Amar em liberdade, deixar partir da minha vida quem não quer cá estar sem mágoa e sem zanga, receber de braços abertos todos esses "planos de desenvolvimento".

Quero ser capaz de continuar a ter sonhos e paixões, entusiasmo e iniciativa, criatividade e desafios... quero ser capaz de continuar viva e feliz.

Toda a gente

14.07.09

Um dia disseste-me: "Toda a gente faz isto!"

Pois digo-te que isso que me disseste foi para mim uma grande desilusão. Quem diz uma frase assim quer realmente dizer que não pode de forma nenhuma defender o que faz. Esconde-se atrás de outros que só existem no vazio, criados ali à pressa para fazerem uma barreira de decência. Quem são esses "toda a gente"? Realmete, toda a gente não existe. Existem pessoas, seres pensantes (às vezes) que fazem coisas que umas vezes são OK e outras vezes não são. E, mesmo que toda a gente fosse algo que existisse, terei eu direito de me esconder atrás disso? Ser-me-ia permitido negar-me, só porque toda a gente age de uma forma contrária ao que me faz sentido?

Uma frase assim é a negação de uma pessoa. Quando essa pessoa é um amigo, isso dói. Dói mais ainda quando a partir daí, o diálogo ficou impossível. 

Não posso exigir nada de ninguém; não posso querer que outros actuem da forma que entendo como correcta. Não posso também ficar calada quando estou perante atitudes de amigos. Mesmo que corra o risco de tudo se desfazer por incapacidade de continuar, a clareza e o respeito por mim levam-me a falar. 

Às vezes a amizade dói.

Sem pó até ao horizonte

13.07.09

 Às vezes a vida acontece; outras, parece que está tudo na mesma. No entanto, nada disto é assim. É só a percepção das coisas que passam por mim. Sou eu que faço essa diferença: por momentos consigo sentir a vida a passar e noutras alturas parece que nada me afecta.

Quando fico incapaz de sentir aquelas coisas insignificantes que são parte fundamental de mim, quando acho que a vida só pode ser feita de grandes espectáculos, grandes acontecimentos, estrelas e foguetes, quando me esqueço de que sou pequenina e que o que mais me preenche são coisas tão breves e tão importantes como um olhar, uma palavra, um sorriso, um nascer do dia, um acordar… então as coisas não fazem sentido,  a vida não acontece e eu desapareço na poeira do caminho.

Só quando tenho calma é que não levanto pó. Então consigo ver o caminho, consigo vislumbrar o horizonte, levantar o olhar e ver o céu.

Quando sinto que nada acontece é porque deixei de conseguir ver, fiquei cega por um sem número de pequenos factos, acontecimentos, eventos; acabei por ficar incapaz de sentir e vivenciar a doçura que é estar aqui, de experimentar o entusiasmo desta aventura que é o não saber o que me vai trazer o dia de logo à tarde, deixou de ser possível para mim escutar os outros e de facto aceitá-los sem julgamento.

Hoje não levanto pó.

Hoje a vida espraia-se até ao horizonte.

 

Menina curiosa

09.07.09

 No silêncio da casa, a tarde arrasta-se devagarinho como se não quisesse incomodar. Tempo de quase férias, de não vale a pena esforçar-me muito porque daqui a pouco não vou cá estar, tempo de começar a preguiçar e de pensar nas coisas que gosto de fazer sem obrigação, sem horário, sem premeditação. Tempo de deixar acontecer. Sem barulho de televisão, nem rádio. Só este ruído de fundo da ventoinha do computador. 

Espraio o olhar pela paisagem e vejo lá longe os prédios, a estrada; mais perto, o campo semeado, com o verde pequenino a aparecer. 

O que há para lá disto? O que há para lá do dia de hoje? 

Espreito a paisagem e espreito a vida. 

Curiosa, no início deste novo capítulo da minha vida. 

O que lá vem? 

Abusos

02.07.09

 Em cada dia que passa aprendo alguma coisa. Melhor ainda, há tempos em que recebo mensagens e situações que me levam a tomar consciência, a modificar a minha forma de estar e pensar sobre um determinado tema.

O tema agora é o abuso. Abuso sob diversas formas, algumas mais corriqueiras que outras. Por vezes fico tão receptiva a tais mensagens que penso que ando um bocado paranóica a ver abusos em todo o lado. Sei que não é nada disso. O que acontece é que, realmente, existem muitas e diversas formas de abuso, algumas das quais nos são tão familiares que achamos que são normais, que são OK. 

O que são faltas de respeito senão abusos? O que é tirar partido de situações e de pessoas senão um abuso? O que é ridicularizar outra pessoa? O que é não descansar o suficiente? O que é ignorar o ritmo da Lua, do Sol, das marés, da Natureza? O que é ignorar o que existe dentro de mim, o que sinto, o que penso, o que sou de verdade? O que é impor-me aos outros, querer fazer vingar a minha vontade, a minha razão? O que é atirar para cima dos outros com os meus problemas, as minhas queixas, os meus ressentimentos, de uma forma intempestiva como se eles, por serem amigos ou familiares, tivessem a obrigação de me aturar sempre que me apetece e da forma que me apetece?

Cada um de nós é um conjunto misterioso de componentes complexas; cada um de nós é algo que nos ultrapassa por não ser possível abarcarmos tal realidade; cada um de nós tem dentro de si um mar imenso de possiblidades, de potencialidades, de hipóteses de desenvolvimento insuspeitadas à espera de uma oportunidade para virem à superfície; cada um de nós é um mundo à espera de ser descoberto.

Ficar só pelo que vemos, reduzir a amplitude destes pequenos/grandes Universos apenas à sua superfície visível, ignorar as várias facetas, os cambiantes, os milhares de tons que existem e se vão revelando (ou não), é um exercício de paciência e de persistência possível apenas quando damos tempo e espaço a esse nascer de conhecimento. É preciso querer.