Amizade
A amizade é algo realmente importante a que por vezes não se dá muita importância. As relações surgem naturalmente, muitas vezes nem são escolhidas, simplesmente acontecem. Por factores externos, coincidências, sei lá ... Estar no mesmo sítio, ter o mesmo hobby, algo em comum... E isso, em simultâneo com empatia e valores similares, cria uma aproximação a que chamamos amizade. A coisa flui; se estamos bem com a pessoa temos vontade de conviver mais, de a convidar para nossa casa, de combinar saídas, cinema, passeios, etc. Muitas vezes tudo isto acontece de uma forma muito inconsciente, muito fluida e natural. Não há propriamente uma escolha, há situações que fazem sentido e que se vão sucedendo.
E depois? Quando as situações permitem que haja uma intimidade maior, quando se começa a fazer confidências, quando se começa realmente a partilhar a vida e o que nos vai na alma? Aí realmente a coisa muda. Começa a existir uma responsabilidade que anteriormente não existia. É preciso estarmos atentos, tomar consciência e saber o que fazer com essa responsabilidade. Com o passar do tempo e das confidências, passamos a companheiros de jornada em que cada um se apoia no outro. Conta com ele para o seu equilíbrio emocional, para poder falar de todas as coisas que não fala com outras pessoas, é um espaço de verdade e de partilha tão íntima e profunda que passa a constituir um espaço sagrado. Um espaço que é preciso respeitar e cuidar dele porque é precioso.
Difícil é conseguir manter este espaço. Por inabilidade, por falta de atenção, por ser mais fácil vermos só o nosso lado, por ser difícil continuar apesar das diferenças que, mais tarde ou mais cedo, vão surgir.
É então que é preciso escolher, que é preciso perceber dentro do coração o que faz sentido: continuar e aprender com essas diferenças ou se, por uma qualquer razão, um valor foi desprezado, uma divergência demasiado grande se manifestou, um limite sagrado esteve em risco de ser violadoe e não é possível continuar a trilhar o mesmo caminho.
É preciso perceberr. Ter e sentir a liberdade da escolha. Respeitar o coração quando diz que sim e quando diz que não. Ter a coragem de seguir a sua indicação.
Por vezes o caminho é difícil, por vezes a orientação que recebemos não é a que desejávamos. Mas é preciso, acima de tudo, respeitar a nossa sabedoria, dignificar o nosso interior, acreditar e confiar nessa pequena voz, dar-lhe espaço e ouvi-la. É simplesmente a nossa integridade que está em causa e dela depende a nossa auto-estima, base do nosso valor e do nosso bem-estar.
Não é preciso justificar, dizer mal, fazer por ser superior. A questão não tem a ver com o outro. A questão tem mesmo a ver connosco. É o nosso Eu que está em causa. Dói mas esta dor também vai passar.