Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

an-dando

Quando me escrevo, descrevo. Quando descrevo, estou. Quando estou, dou.

an-dando

Quando me escrevo, descrevo. Quando descrevo, estou. Quando estou, dou.

Seres

29.04.09

 Somos tão rápidos a julgar os outros... Numa fracção de segundo, vemos alguém, classificamos, rotulamos, muitas vezes desprezamos, passamos à frente... Sem dar mais nenhuma hipótese, sem remorso, desprendidos do que poderia ser algo diferente. Somos demais aqui na cidade. Incomodamo-nos nas filas do supermercado e do trânsito. Temos que lutar por trabalho, pelo direito de ser e de pertencer. Por isso nos desprezamos. Esquecemos rapidamente o valor de coisas como a amizade. Centrados no pão que é preciso comer, na casa que precisamos para viver, na roupa que queremos vestir, vivemos vidrados esquecendo o valor da emoção, da partilha. Somos demasiado rápidos a julgar os outros, a deitar para o lixo o acaso de um encontro, a troca de um olhar.

Preciso de viver mais devagar. De dar tempo para apreender o outro, ser tão complexo que tenho muita dificuldade em perceber. Preciso também de mais tempo para mim, também eu um ser tão complexo e, por vezes, tão difícil de entender por mim mesma.

Preciso de viver mais devagar.

Passinhos de alma

24.04.09

Devagar, sem que ela desse por isso,  estava a aparecer. Vinha por caminhos estreitos e escuros, aproveitava o tempo da noite e da lua para andar mais um pouco. Não sabia se deveria aparecer ou se deveria ficar ainda mais um pouco na escuridão. Silenciosa, ia acontecendo, avançando, uma passada aqui, outra passada acolá. A sua presença começou depois a ter os seus efeitos. O que uma vez tinha sido, deixou de ser. O que tinha brilho, aos poucos foi ficando um pouco mais pálido.

Ela não ligou. Achou que a vida é assim mesmo. No seu entusiasmo, sim, porque ela é uma pessoa com muito entusiasmo, pensou que estava a ver mal, que era algo só daquele dia, só daquele momento, que não era algo profundo. Minimizou, quis ignorar.

Mas o processo não tinha parado. Estava consistentemente a acontecer. Muito devagar, ao ritmo da própria natureza. Quando começou? Quando, exactamente, tinha começado? Ninguém poderia dizer, ninguém o sabia, isso é algo que não faz parte do consciente. Porque também o início, o começo foi tão lento, tão imperceptível que ninguém deu por isso. Assim, começam as coisas na alma. Devagar, lentamente, sem que se possa saber ao certo quando começam. 

Purificação

20.04.09

O fluxo de energia positiva foi interrompido. Nem sequer ficou energia neutra. Antes pelo contrário. A negritude do veneno escapou-se pelas bocas que se abriram  aos quatro ventos. Como um vulcão há muito contido pela terra mãe, saiu esse bafo vermelho e negro, semeando destruição e calamidade.

Espantados uns, amedrontados outros, siderados, desanimados, impotentes perante tal fúria.

Que fazer, como fazer, que dizer???

Em silêncio, deram-se as mãos. Estavam tremendo; porém acreditavam que agora iam ficar capacitados de algo, iam certamente aprender uma nova lição. Agarraram-se ao que tinham, àquilo em que acreditavam. De resto, parecia não haver qualquer outra alternativa.

De consciência tranquila, entregaram-se ao Universo, dispostos a aceitar o que quer que por aí viesse. Certos de que não ia ser fácil; certos também de que, das cinzas, seria possível nascer algo de belo e de muito mais puro.

A verdade é que esse veneno, escondido durante algum tempo, pôde sair; a verdade é que a terra mãe, nas suas entranhas, ficou mais limpa. Foi possível essa espécie de purificação. Foi possível e, sem dúvida, necessário.

Podemos agora olhar olhos nos olhos porque já não temos mais nada a esconder. Alguns olhares são de ódio, outros de raiva, outros ainda de incredulidade e também outros de medo. Mas já não há olhares disfarçados, já não existem capas.

A aniquilação está em cima da mesa.

Não pôde desaparecer por absorção. O facto é que a terra mãe cuspiu e deitou fora.

Talvez o início do fim de uma etapa.

 

 

Certeza de Ser

14.04.09

No domingo estive um bocado sentadinha, a apanhar um pouco de sol e a ver as nuvens branquinhas que passavam no céu. Mais além havia um grande monte delas, não tão branquinhas mas com um ar mais cinzento, um pouco mais escuro. Pensava eu na vida, naquilo que ela nos traz, na quantidade de situações e pessoas com que nos deparamos ao longo dos dias e dos anos. Nem sempre o nosso céu é completamente azul. Mas isso não quer dizer que o sol tenha desaparecido. Continua, lá atrás, escondido, com a certeza de um dia poder voltar a brilhar; está à espera de conseguir, com o seu calor, dissolver essas gotas que formam as tais nuvens.

Por outro lado, a imensidão desse céu e dessas nuvens fizeram-me sentir pequenina! Pequenina e segura desse Universo que me ampara e do qual sou parte integrante. Esse Universo tão grande, inabarcável por mim, com uma dimensão em tempo e espaço que nem sei compreender. E esse tal Universo, essa tal imensidão, move-se bem devagar, de uma forma bem lenta mas sempre, sempre sem desistir, sem que nada a abale. Pensei nas montanhas, nos rochedos, nas árvores... Quanto tempo precisa uma montanha para ser montanha? E um penedo? Essa é a Força, é a Persistência, é aquele movimento calmo e tranquilo da Certeza de Ser.

No outro dia falei de modelos, verdade? Pois então, bem à minha frente, eis os modelos mais inabaláveis.

 

Eureka

09.04.09

Como é bom trabalhar em tempo de férias! Num instante chego, há menos pessoas e isso, para mim, significa menos solicitações, há mais silêncio, menos correria, menos telefones a tocar... Há mais tempo para respirar, para ser eu, para pensar, reflectir, estudar, pôr em ordem coisas que há muito esperavam essa oportunidade.

É importante haver estas paragens. São como aquele efeito a que chamo efeito Eureka... Que consiste em me lembrar de algo que quero, não quando estou a fazer o esforço de me lembrar, mas quando deixo de o fazer; em encontrar a solução para um problema quando não estou a forçar-me a encontrá-la. De repente surge, não sei de onde, essa ideia que me maravilha e faz ficar feliz. E digo "Eureka, é isso mesmo!" Assim também estas paragens são oportunidades de um olhar diferente e renovado sobre a realidade que por vezes parece demasiado conhecida e sem novidade.

Sem dúvida que o trabalho é importante; sem dúvida também, que o não-trabalho não é menos. É das duas componentes que se faz o equilíbrio, a harmonia, o desenvolvimento saudável, o viver plenamente.

Bom Dia

08.04.09

A beleza da vida está mesmo dentro do meu peito!

O mau tempo já lá vai, hoje está sol, esta semana de trabalho é encolhida, os problemas vão resolver-se ou dissolver-se, estou bem comigo e desisti de mudar quem quer que seja.

A chama cintila, a luz brilha e irradia.

Um bom dia para o mundo!

Modelos

07.04.09

Preciso de modelos. Não me identifico com os modelos de capa de revista que me aparecem despersonalizados do seu conteúdo essencial. Os modelos de que preciso são pessoas que me levem a ser o melhor de mim mesma. Não pelo que vestem, não pela sua vida sentimental, não pela sua vida económica. Modelos, pela sua maneira de ser, pela forma como lidam com a vida, pelo que fazem por si, pelos outros, por nós todos. Modelos, pela sua integridade, pela sua educação, pela sua simpatia, pela sua gentileza. Modelos, pelo seu espírito de partilha, pela sua tolerância, pela sua visão humanitária desta sociedade em que estamos inseridos, ligados todos por uma cadeia indestrutível.

Modelos-pessoas, exemplos vivos daquilo que, em mim, há de melhor.

Sim porque tenho muitas facetas. Umas boas e outras nem por isso. E o curioso é que o mais fácil a curto prazo nem sempre é conseguido pelas minhas facetas melhores. Por vezes preciso de fazer esforço para utilizar as partes de mim mesma que são mais autênciticas, mais verdadeiras, mais íntegras. Vale sempre a pena a longo prazo. Apesar do caminho difícil e por vezes sinuoso.

O que é certo é que eu também sou modelo. Existo e sou vista por outros. Pelo simples facto de estar aqui, sou um elo nesta cadeia de interrelacionamentos. Pensar que não faz mal, que posso fazer o que me dá na real gana, que isso não tem importância... não corresponde à realidade. Cada acto meu, cada pensamento, cada atitude, cada palavra, cada ideia, tem um efeito em todos os que me rodeiam e até um efeito à distância que eu não consigo sequer medir nem conhecer.

Li um livro que falava da co-responsabilidade inevitável. De facto é isso mesmo. Não posso, porque existo aqui e agora, demitir-me dessa responsabilidade que me é inerente enquanto ser humano, pequena parte de um todo.

Então, preciso de tomar consciência dessa minha responsabilidade e perceber que aquilo que penso ou não penso, faço ou não faço, digo ou não digo, tem importância para todos os que me rodeiam. E dessa forma, tem também, numa segunda fase, um efeito de boomerang para mim também. Assim como cuspir para o ar. Depois cai em cima da minha cabeça.

Então preciso de agir com o melhor de mim mesma; preciso de afastar as formas tortuosas que consigo utilizar quando penso; preciso de me rodear do melhor que existe ao meu redor; preciso de procurar tudo aquilo que me "puxa para cima".

Preciso de ser sensível a tudo e a todos mas tenho necessidade de escolher, em cada dia da minha vida, os modelos que quero seguir, aqueles que potenciam a chama brilhante que existe dentro do meu peito.